Coisas do Coração

Eu entrevistei Michael Jackson

Posted in Coração by adilson borges on 14 de julho de 2009

Cercado por seguranças, um deles hasteando um guarda-chuva preto sobre a sua cabeça, o famoso ídolo pop circula pelas ruas de Salvador neste Carnaval. Segunda-feira, passou pelo Campo Grande, logo depois do bloco Muquiranas, e causou grande alvoroço. Mas manteve aquele ar de “me deixe sozinho (Let me alone)”

Os meninos apontam e correm para ver. As meninas gritam e tentam furar o cerco para, pelo menos, tocar-lhe o braço, que era preto, ainda não é branco, mas está em irrefreável processo de branqueamento. Nós somos as crianças (We are the children), parecem gritar. 

As mulheres-maravilha das Muquiranas fazem escândalo e pulam sobre os 15 rapazes de óculos escuros, camisa branca de manga comprida, que protegem o artista. O cara é meu (The guy is mine), berram.

Os braços magros não aguentam a pressão das mulheres-maravilha. Resultado: a corrente se quebra, a rodinha se abre, alguns seguranças ficam embaixo da montanha de Muquiranas fedidas a suor e cerveja.

E, para minha alegria, Michael Jackson fica livre para entrar na área. Frente a frente com o goleiro, eu – que não vi Rolling Stones, no Rio, nem entrevistei Bono Vox, na Bahia –, tenho que caprichar no lance. Começo chutando devagar. Quem quer pegar galinha não diz “xô”

 

 

“Estou light”

 

 É seu primeiro Carnaval em Salvador?

 

Michael Jackson – Não. Já estive aqui outras vezes…

 

Quantas?

 

Umas duas ou três.

 

O que está achando do Carnaval

 

Ótimo.

 

Como você lida com todo este assédio de fãs,  apertos, correrias, falta de privacidade?

 

É muito complicado. Mas é muito gratificante ver meninos com este (aponta para um garoto de uns 7 anos que lhe pede autografo e puxa sua camisa suada).

 

Por falar em assédio, o que me diz das acusações de pedofilia…?

Isso não acontece mais. Agora estou – como se diz? – light.

 

Quando teremos disco novo?

 

Em fevereiro, quer dizer, no fim deste mês.

 

Qual o nome?

 

É uma coletânea. Ainda não defini como vai se chamar.

 

Falando em nome, qual o seu verdadeiro nome

Ivanildo Conceição 

 

Qual a sua idade?

24.

 

O que você faz?

 

Sou operador de máquinas.

 

Onde?

 

Na Copiadora Frente e Verso.

 

Coincidência! Desde quando você faz cópia?

 

Na copiadora?

 

Não, de Michael Jackson…

 

Ah, desde pequeno. Eu tenho tudo dele, disco, fotos, reportagem, modelos de roupa. Faço show como cover, e, no Carnaval, resolvi fazer esta performance.

 

 

 

Recado a Michael Jackson:  A reportagem acima foi publicada em pleno Carnaval, dia 01/03/2006, no Jornal A TARDE, o mais importante da Bahia e um dos maiores do Norte e Nordeste do Brasil. O projeto do jornal para a época previa uso de pseudônimo para os repórteres. Por isso, assino a matéria com o nome de Chiquito Superbacana, uma alusão ao meu filho Chico e a Caetano Veloso, autor do frevo A filha da Chiquita Bacana e da tropicalista  Superbacana.

Publico a reportagem agora aqui como homenagem póstuma a você, man.

Valeu Michael! (Adilson Borges)

 

 

 

 

2014, a odisséia dos donos da bola

Posted in Coração by adilson borges on 3 de junho de 2009

O alvoroço é total entre os políticos nos estados onde vai rolar a bola da Copa de 2014. Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT), com a autoridade que lhe foi conferida pelo povo e o esforço que despendeu para trazer a disputa para Salvador, avança firme na área e começa a chutar para o gol, no ano que vem, quando disputa a reeleição. Na propaganda da televisão, chega a dizer que as obras necessárias à grande disputa vão ficar na capital baiana após os jogos da Copa do Mundo. É óbvio. Alguém pensou que seriam derrubadas?

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), chuta as sandálias da humildade, amarra as chuteiras e veste calções. Arrumadinho e esbanjando preparação física, faz embaixadas no campo do governo estadual, do qual participa com atletas por ele escalados – o vice-governador Edmundo Pereira e os secretários da Indústria, Comércio e Mineração, Rafael Amoedo, e da Infra-Estrutura, Batista Neves. Sem falar no pai de  Geddel, Afrísio Vieira Lima, presidente da Junta Comercial da Bahia (Juceb)

Geddel, que nunca escondeu a vontade de ser dirigente estadual, posiciona-se como embaixador na atração da Copa para a área do seu principal atacante, o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), que também está de olho no governo estadual.

Não é à toa tanto alvoroço. Afinal, todos sabem que futebol e política andam de mãos (e pés) dadas. Na Bahia, por exemplo, quem há de negar a força que o gramado deu à carreira parlamentar  de nomes como Osório Vilas-Boas, Paulo Carneiro, Marcelo Guimarães, Fernando Schmidt?  Ninguém.

Mas é equivocada a visão que, automaticamente, transfere para as urnas o sucesso de quem se deu bem no (e com) futebol. A bola ajuda, é claro, disso ninguém duvida, mas não é tudo. Procede melhor quem segue o adágio “faça por ti que eu ajudarei”. Vejamos três exemplos:

 O Brasil perdeu a Copa de 1998.  Mas nas eleições daquele ano saiu vitorioso quem estava no poder, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o inaugurador das reeleições no processo político brasileiro.

O Brasil ganhou a Copa de 2002 e sagrou-se pentacampeão mundial. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso tentou faturar o episódio elegendo um correligionário do PSDB, o economista José Serra. Foi derrotado fragorosamente pelo metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Em 2006, o Brasil perdeu a Copa. Mas Lula foi reeleito presidente, derrotando outro tucano, Geraldo Alckmin, apesar do PT que atrapalhou bastante, sobretudo com o escândalo do mensalão.

A história, mãe de toda sabedoria, mostra, portanto, que a bola quando está com os pernas-de-pau da política pode até atrapalhar mais do que ajudar. E que é preciso estar atento a outras instâncias das necessidades do povo, que gosta mais de pão do que de circo, para evitar o risco do gol contra.

(Adilson Borges)