Coisas do Coração

“A prática de exercício é sempre fundamental”

Posted in Coração by adilson borges on 8 de maio de 2009
 
Doenças cardiovasculares
O Dr. Mario Cerci revela que pessoas que tiveram problemas cardiovasculares reclamam muito das vidas que levavam antes do infarto.
   
  Dr. Mario Cerci, o senhor, como cardiologista, teria quais sintomas para chamar atenção sobre a possibilidade de estar iniciando um infarto nesse organismo?

Para ter um infarto no coração, o indivíduo habitualmente tem uma dor que costuma ser no peito, que pode se irradiar para os dois braços, principalmente para o braço esquerdo, pode se irradiar também para o pescoço. É uma dor de forte intensidade e costuma estar acompanhada de palidez, a pessoa transpira muito, tem sensação de mal-estar e algumas vezes até de náusea, de vômito. Esses são os principais sintomas que a pessoa deve imediatamente procurar um serviço que possa atendê-lo rapidamente.

O infarto tem uma correlação com hipertensão ou não?

Tem. Os fatores de risco mais comuns que provocam o infarto são: a hipertensão arterial, hoje 50 milhões de brasileiros são hipertensos, o hábito de fumar também predispõe, o colesterol que é a gordura de origem animal aumentada, a obesidade, a diabete e os indivíduos que são tensos e que não praticam exercícios. São os fatores de risco mais comuns que provocam infarto.

A correria do dia-a-dia, o stress, tudo isso, aumentou o número de incidência de infartos?

Tem aumentado sim. Aliás, as doenças que mais matam no mundo, tanto nos países de primeiro mundo, desenvolvidos ou subdesenvolvidos, são as doenças cardiovasculares. As duas primeiras são o infarto do coração e o derrame cerebral, que é também uma trombose, um entupimento de uma artéria no cérebro. O infarto é o entupimento da artéria coronária que é a artéria do coração. São as duas causas mais freqüentes de morte do mundo.

Por isso há a necessidade de alertar a população para que certos cuidados sejam tomados, principalmente no dia-a-dia, porque hábitos errados na alimentação, a médio ou longo prazo, muitas vezes trazem conseqüências irreversíveis para as pessoas?

Exatamente. Então, essas pessoas que são hipertensas, que costumam gostar de uma comida com um pouco mais de sal, ou acompanhadas habitualmente de peso excessivo, de fumar e outros, ainda que são diabéticos, essas pessoas têm que levar uma vida mais saudável. Procurando ter uma alimentação com baixa quantidade de gorduras, baixa quantidade de sal, praticar exercícios corretamente orientados por um médico, fazer uma avaliação inicial, além de tratar bem essa pressão, quando precisar tomar medicamentos, tratar muito bem a diabete, que são fatores que aumentam muito o risco da pessoa vir a ter o infarto.

A pessoa que já tem problema hereditário, pai, mãe, enfim, que já vem com problema cardiovascular, a probabilidade é muito maior, não é doutor?

Exatamente. Então, aí já e um fator de risco que não tem como mudar. Existem os fatores que são chamados imutáveis. Quanto mais velho, você tem mais chance de ter infarto. Os pacientes cujos pais tiveram infarto, devem ter mais cuidados que aquele que não tem nenhum desses fatores de risco. E mesmo que não tenha, ainda há a genética.

Nós tivemos dois casos de jogadores de futebol que faleceram em campo, possivelmente não-fumantes, com uma vida regrada e mesmo assim tiveram infarto, como o senhor explica isso?

Veja bem, é uma doença que tem uma gênese de muitas causas. Uma delas, por exemplo, é a diabete e o exemplo disso é o Washington que é um jogador daqui de Curitiba, que teve um infarto, que fez um stent, desobstruiu a coronária e está em perfeitas condições para poder jogar. Então, mesmo o indivíduo sendo diabético, embora muito cuidadoso, pode vir a ter infarto. Você pode se cuidar e vir a ter infarto, isso pode ocorrer. Mesmo se cuidando não significa que ele não vai ter um infarto. Agora, a chance é muito menor se você se cuidar.

E outra conseqüência da saúde, da pessoa que tem uma vida equilibrada, que cuida da alimentação, tudo balanceado, ela terá privilégio em ter uma vida mais longa e evitar não só o infarto, mas uma série de outras doenças, não é mesmo doutor?

Exato. Porque às vezes as pessoas falam que “fulano se cuidava bem e morreu de infarto”, eu quero dizer o seguinte: isso pode ocorrer, mas é exceção e a grande maioria das pessoas que se cuidam vivem mais e melhor. Às vezes, o que as pessoas não conseguem mudar é a ansiedade, o stress. Outras vezes ele cuida bem do colesterol, mas é muito tenso, trabalha muito. Às vezes, é muito ambicioso, quer ter um padrão de vida muito difícil de ser alcançado, tem uma personalidade típica de um indivíduo infartado.

A personalidade típica de um indivíduo infartado é perfeccionista, vive estressado, com projetos de vida muito difíceis de alcançar. Então, a pessoa tem que mudar isso? Exercício é fundamental. Ajuda a baixar a pressão, diminui o colesterol, diminui o peso, que já são três fatores importantes. Ajuda a diabete, diminui a resistência à insulina, além de diminuir a tensão e a depressão.

A gente percebe que pessoas que tiveram problemas cardiovasculares, que sofreram infarto, reclamam muito que deveriam ter uma vida um pouco menos estressante e hoje reclamam de não conseguirem arranjar um hobbie, talvez por serem pessoas já mais de idade.

Quem estabelece a prioridade é a própria pessoa. Se você tiver uma prioridade de só trabalhar, não vai ter tempo para fazer um hobbie qualquer. Eu digo assim, a prática de exercício é sempre fundamental. Tem pessoas que não gostam de jogar futebol, não gostam de nadar, mas podem gostar de dançar, que é, por exemplo, um hobbie interessante e um bom exercício. Podem gostar de andar a cavalo, que é outro exercício que a gente não cita e é excelente. Às vezes, tem outro que gosta de bicicleta, tem que encontrar um hobbie em que sinta-se satisfeito. Se não se sentir satisfeito, ele vai praticar durante pouco tempo e parar. O ideal é manter a regularidade, se possível todos os dias ou no mínimo quatro vezes por semana.

Qual a orientação para quem está vivendo a maturidade, Dr. Mário Cerci?

Todas as pessoas, com o passar da idade, vão tendo maior chance de ter um infarto. Com o passar dos anos, a chance ainda é maior. Então, essas pessoas têm que procurar um cardiologista periodicamente, dosar o colesterol, dosar a glicemia para ver se não é diabético, prática de exercício supervisionada, orientada por um cardiologista, previamente. Só depois começar a praticar exercício, redução de ansiedade, ter algum hobbie que o satisfaça, que é importantíssimo, e diminuir o máximo possível a ansiedade. Se seguir essas linhas, terá uma chance muito menor de vir a ter complicações cardiovasculares.

Resumindo, a prevenção é sempre importante?

É o mais importante, o mais barato e o mais eficaz